Sexo & Letra
Ricardo Desidério
01 de agosto de 2021

Nada será como antes

Uma história, muitas aprendizagens.


O livro Me Chame Pelo Seu Nome, de André Aciman, publicado pela Intrínseca em 2018 é quem inspirou o filme dirigido por Luca Guadagnino e que foi aclamado nos festivais de Berlim, Toronto, do Rio, no Sundance e com as indicações para o Oscar de 2018 nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Timothée Chalamet) e Melhor Roteiro Adaptado (James Ivory) – categoria esta que lhe rendeu a tão desejada estatueta.

Mas por que ainda escrever sobre este livro? Talvez porque ele nos permite envolver em uma história que nos ensina a lidar com nossos próprios sentimentos, seja qual for a nossa orientação sexual.

 

É verão na Riviera Italiana. Como todos os anos, o pai de Elio recebe na casa da família um jovem acadêmico para ajudá-lo com suas pesquisas universitárias. O escolhido dessa temporada é Oliver, um americano tão atraente quanto evasivo, que aproveita o clima ensolarado do Mediterrâneo para trabalhar e, claro, se divertir nas horas vagas. Aos poucos, entre banhos de piscina discussões sobre arte e literatura, passeios de bicicleta, festas no vilarejo e ausências repentinas, um romance intenso como o verão floresce entre Elio e o visitante. Conforme tateiam o instável e desconhecido terreno que os separa, aquilo que inicialmente parecia uma relação de indiferença supera o medo e a obsessão para culminar em uma troca tão íntima que marcará os dois pela vida inteira [Orelha do livro].

A história por si só é repleta de nuances que nos envolve do início ao fim, tanto para quem assiste ao filme, quanto para quem se debruça nas páginas do livro. Inclusive, quero convidá-lo para se aventurar no filme e na riqueza de detalhes da história de André Aciman no livro Me Chame Pelo Seu Nome, se ainda não o fez.

A editora Intríseca, em uma matéria publicada no mesmo ano de lançamento do livro, nos possibilitou refletir sob diversos aspectos importantes da obra e que aqui os resgato: o primeiro, que está diretamente ligado aos nossos sentimentos – sob a necessidade de expressá-lo. Em Me Chame Pelo Seu Nome, somos conduzidos durante toda a leitura a acompanhar as descobertas da própria sexualidade de Elio. Um misto de contradições, tomadas de decisões e entrega. Entrega esta, que se trata de um ponto, também muito evidente na obra. Da necessidade de vivermos intensamente o momento, o presente, sem nos preocuparmos com o amanhã. Talvez esta seja uma das premissas básicas de viver e que muitas vezes a deixamos de lado.

No entanto, a obra também nos leva a pensar/refletir que nada é tão simples assim, nem sempre as coisas fluem como gostaríamos que fosse. Saber lidar com as dores, com esse provável amor proibido de Elio ao longo da história no leva a refletirmos sobre a necessidade de tomarmos as dores como alicerce para nos encorajarmos a valorizar os nossos momentos de felicidade.

Contudo, o ponto crucial da obra é que, como se trata de um romance LGBTQI+ em que a própria orientação sexual está em destaque, talvez em diversas outras obras pudéssemos discorrer sob o aspecto de um conflito em um núcleo familiar de aceitação ou não, mas o que a obra propõe é exatamente o inverso, conduzindo-nos a refletir que o maior conflito/questionamento está dentro de nós mesmo, como Elio nos deixa certo disso em sua dificuldade de expressar sentimentos em palavras, de aceitar seus próprios desejos, de saber lidar com seus medos.

Enfim, uma obra que precisa ser lida e relida sempre, principalmente pela marcante conversa de Elio com seu pai no final. Talvez um dos diálogos mais sensíveis que você possa encontrar em uma obra.

 


Ricardo Desidério é doutor em Educação, na linha de Sexualidade, Cultura e Educação Sexual.

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