A busca pela felicidade não é uma meta inventada pelo capitalismo. O cristianismo já entendia a felicidade como a salvação da alma e sua vida jubilosa num paraíso eterno. Os modernos pensavam na possibilidade de sermos felizes em sociedades utópicas, em favor das quais seguiram os românticos e socialistas. Até hoje, a maioria das pessoas parece disposta a pagar caro pela melhor fórmula de se alcançar a felicidade, que um dia Aristóteles disse ser a meta da filosofia. Talvez por isso tenha ficado claro aos políticos e às elites governantes, que a venda da esperança na felicidade não era apenas um bom negócio, mas também um analgésico para as dores insuportáveis causadas pela miséria da existência das pessoas comuns. [...]  O mundo dos certos e dos errados afundou com o fim da modernidade, ali pelos anos 1980. Hoje, já somam 40 anos de uma cultura nascida numa terra de ninguém, denominada por alguns de “pós-modernidade”, ainda vagando em busca do futuro, depois de cegada pelo brilho resplandecente dos valores liberais e socialistas. Talvez o sucesso crescente das séries e dos streamings possa ser explicado pelo desejo de um próximo capítulo, em contraponto ao imediatismo vendido pelas pílulas da felicidade, tão abundantes nas mídias digitais, na arte performática. A putrefação da política faz parte deste novo normal, talvez porque venha em capítulos, cada qual mais obscuro que o outro, satisfazendo os gostos por eviscerações e necropsias, tão comuns nos seriados das TVs a cabo e nas lições de anatomia dos jogos eletrônicos. Este livro tem a coragem de encarar e refletir sobre esses cenários cada vez mais comuns entre nós, perguntando-se onde encontrar a felicidade diante desses espetáculos viscerais que insistem em se normalizar entre nós.