[...] Não chega a ser surpreendente o fato de até mesmo uma criança ser capaz de fazer, automaticamente, a distinção entre as duas grandes categorias narrativas do audiovisual, ficção e não-ficção. Saber separar os discursos que falam diretamente da realidade daqueles que tratam de universos ficcionais é uma habilidade essencial à vida social. Sejam as narrativas inspiradas pela realidade que nos cerca, ou sejam elas tentativas de criação de mundos fantásticos, a forma como realizam certas escolhas estéticas e se apresentam para o público define seu grau de verossimilhança, o que pode determinar como elas são aceitas.
[...] Este livro tem três objetivos: produzir uma reflexão teórica sobre o conceito de verossimilhança a partir da oposição entre as categorias ficção x não ficção nos estudos da narrativa, na literatura e no cinema, desde suas origens em Platão e Aristóteles até os dias atuais; caracterizar o cenário comunicacional contemporâneo com base no conceito semiótico de index appeal; analisar três filmes de destaque produzidos entre 2014 e 2015, em contextos bastante distintos, que foram escolhidos por problematizarem a questão das fronteiras entre a ficção e a não ficção, seja no âmbito estético ou no seu enquadramento categorial.