A dramaturgia é um modo de ação (urgos), a partir de um texto endereçado a um público e pronunciado num palco. O “drama” é um conjunto de ações que produzem eventos, que se sucedem no tempo e no espaço, transformando pessoas e coisas por intermédio de uma narrativa. Mas, o drama, também é um ethos brasileiro, por excelência –, o modo luso-tupiniquim de agir no mundo. Criador de narrativas dramáticas, de personagens e eventos, o dramaturgo é um artífice da psiquê nacional. Esta palavra se assemelha a “demiurgo”, de mesma terminação, que designa também um artífice, mas um criador de mundos. Como resultado fático da Semana da Arte Moderna, nasceu no dia 19 de outubro de 1922, em Salvador, Bahia, o membro da Academia Brasileira de Letras, Alfredo de Freitas Dias Gomes, romancista, dramaturgo, autor de telenovelas e marido de Janete Clair. E ao final de seus 76 anos, na cidade de São Paulo, foi levado pelo tempo em 18 de maio de 1999. [...] Em várias oportunidades, Dias Gomes produziu obras capazes de seduzir todos os tipos de público. Mais conhecido como o dramaturgo do imaginário popular, deu vida a figuras como beatos, coronéis, lobisomens e pagadores de promessa, atendendo à demanda da televisão, do teatro e do cinema no Brasil. [...] Neste livro estão reunidos artigos de diversos pesquisadores, de algumas das melhores universidades nacionais, especialistas em comunicação social, linguística, dramaturgia e letras. Em seus textos, a obra de Dias Gomes é revisitada, a partir de sua contribuição sociocultural para o entendimento do ethos brasileiro, colocando em relevo a transfiguração da dramaturgia brasileira, do teatro para a tela e vice-versa. A complexidade, mas também a sutileza do texto de Dias Gomes, ultrapassa a lâmina superficial da imagem televisiva, para mergulhar em direção aos arquétipos míticos que um dia formaram o genoma cultural do Brasil.