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Conhecemos a Coréia do Sul pelo seu potencial tecnológico, mas este pequeno país asiático começa a ganhar visibilidade internacional em outras áreas. Na cerimônia do Oscar 2020, o filme “Parasita”, dirigido pelo cineasta Bong Joon-ho, levou os principais prêmios da Academia. Mas estou aqui para falar da quase desconhecida literatura sul-coreana tão perturbadora e sombria quanto sua cinematografia. Minha escolha para esta coluna é o trilher psicológico “O Bom Filho”, da escritora You-Jeong Jeong, publicado pela editora Todavia.
O livro é um mergulho no que há de mais sombria da mente humana, a cada resposta abrem-se mais perguntas, e Jeong nos conduz para um labirinto perturbador com frieza clínica e precisão cirúrgica. Em “O Bom Filho” caminhamos quase que hipnoticamente pela mente nebulosa do jovem narrador Yu-Jin um nadador brilhante que tem sua carreira interrompida pela epilepsia.
Em uma manhã, Yu-Jin acorda sentindo cheiro de sangue. Tudo indica que ele tenha sofrido um ataque epiléptico, mas ao percorrer o apartamento, encontra o corpo da mãe. Aos poucos, sua memória vai voltando, e ele lembra de tê-la ouvido chamar seu nome, embora não saiba se ela pedia ajuda ou se tentava salvar a própria vida. Ao tentar descobrir o que aconteceu naquela noite, o narrador nos leva para um labirinto repleto de traumas, tensões e abusos familiares capazes de destruir qualquer laço de afeto ou sentimento. O terror se esconde onde menos se espera.
Com uma narrativa precisa, a autora desenvolve um personagem que consegue manipular o leitor sem que ele perceba que está sendo o tempo todo uma marionete nas mãos do jovem narrador. “O Bom Filho” explora de forma surpreendente os mistérios da mente e da memória e nos conduz de forma silenciosa e passiva a um pântano perturbador. A partir de um diário com a anotações que a mãe fazia sobre ele, Yu-Jin mergulha em um turbilhão de mentiras sobre seu passado nebuloso e um presente cheio de lacunas.
Entre neste labirinto sombrio sem medo das armadilhas que o narrador preparou para você leitor. Com ele, você vai descobrir que a maldade humana vai muito além do que você considera suportável.
Celso Mattos: Graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), mestre em Comunicação Midiática pela UNESP de Bauru, São Paulo, especialista em Bioética e Comunicação Comunitária.