Reflexões sobre Comunicação
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Costumo dizer que a vida me levou pelo caminho das Letras. Meio que sempre fui artífice das palavras, então, fazer disso uma profissão foi quase um curso natural. Porém, tudo aconteceu do modo reverso: jogada aos leões por um amigo que acreditava muito em meu potencial, comecei a atuar na área antes de ter uma formação concluída. Um belo dia, em uma editora pequena, lá estava a mocinha de óculos e olhar atento, pois agora tinham registrado que ela era uma revisora de textos.
Dito isso, imediatamente o imaginário popular questiona: mas quem revisa é uma gramática viva? O certo é escrever que nem professor, né? Você vai corrigir o que escrevo na internet? Ai, que vergonha de falar perto de você, que já deve ter lido um dicionário!
Ledo engano, meus caros, ledo engano.
O revisor de texto, muitas vezes, é um dançarino no fio da navalha: considerar a normativa pura e simples ou ter uma visão mais flexível, até mesmo "descolada"?
Não é uma dicotomia (precisa essa palavra difícil, revisor?) de análise tão fácil como parece. Imediatamente, podemos concluir que se foi contratado um revisor, é porque queremos o texto impecável, quase vestido de smoking ( não precisa colocar itálico, revisor, todo mundo sabe que é um terno), ninguém quer cometer um erro na festa do seu casamento com as palavras, mesmo sabendo que se casaria tão bem quanto se fosse descalço, na praia, só comunicando.
Muitas vezes, entramos em uma espécie de paradoxo quando nos deparamos com gêneros textuais menos sérios, engessados. “E agora, se eu deixar esse “pra”, entenderão que é para manter a oralidade, ou serei a eterna revisora culpada que deixou o texto informal?” Na dúvida, os comentários do Word são os melhores amigos que podemos ter. Revisor não impõe a lei, nós dialogamos com os textos e, claro, com seus criadores.
Mas essa é a essência da profissão, entendemos. Às vezes, até acho que a balança da justiça serviria como símbolo dos revisores de texto, de tanto que medem a quantidade de Gramática que se deve recomendar em um texto, quase como uma recém-casada a cozinhar seu primeiro feijão – no fundo, ela sabe que se errar, para mais ou para menos, o feijão não será mais feijão. E o texto não será mais texto, com gosto de caldinho de sintaxe e coesão.
A norma padrão da língua é tão importante quanto o contexto, é possível utilizar suas " artimanhas" (ficou bom, revisor?) para envolver o leitor ainda mais. Não é preciso dicotomia (deixa essa, revisor), ame ou deixe. Faça sexo com a Gramática, um bom trato e todos ficam satisfeitos. Juntos, Gramática, contexto e comunicação dão é um orgasmo textual.
Gabi Coiradas é professora de língua portuguesa e produção textual. Especialista em revisão de textos, busca, para além da leitura de obras alheias, a arquitetura da própria escrita".