Finalmente, chegamos a um mundo em que é possível consumir a felicidade, mas sem a consumar. É próprio dos humanos sermos insaciáveis, de modo que a consumação se nos torna impossível. A felicidade já foi vendida das mais diversas formas. Antigos gregos diziam que a felicidade se alcança na ausência de necessidades e no bastar-se a si próprio. Cristãos acreditam que a felicidade só se encontra no paraíso. Capitalistas acreditam que a felicidade se mede pelo lucro, enquanto socialistas afirmam que a felicidade coletiva provém do sacrifício da individualidade. O mercado é mais modesto ao nos fazer crer que o consumo de algum produto ou serviço nos aproximará da felicidade, embora o próprio ato de consumir já seja, de algum modo, uma forma de felicidade. Diferentemente do que imaginavam os grandes e os pequenos pensadores, a humanidade não tem apreço pelo estoicismo das ideias abstratas, mas deseja sempre encher a barriga de boa comida, mesmo ao custo da morte de algum erudito. [...] E o sonho dos socialistas se realizou: esta é uma sociedade sem classe! Mas, também, sem estilo, sem destino, sem propósito. Um bom começo para os que foram enganados pelos propósitos dos outros. Está tudo na tela de cristal! A felicidade está em promoção: ela custa mais barato com aquele guru oriental, cujo site cobra poucos reais pelo segredo mais bem guardado. A felicidade está em promoção: ela custa mais barato na mão do contraventor que nos vende uma variedade de remédios controlados, para descontrolar nossa libido. A felicidade está em promoção: ela custa mais barato se votarmos naquele candidato que nos prometeu uma boca naquela instituição de fama ilibada. A felicidade está em promoção: ela custa mais barato com aquele camelô, cujo produto falsificado nem se distingue da marca de luxo, podendo provocar a legítima inveja da qual são feitos os contratos sociais. Este livro nos oferece uma visão, ao mesmo tempo sensível e metódica, dos mecanismos que vêm sendo utilizados para reciclar a ideia de felicidade neste universo em desencanto, que se tornou a sociedade pós-moderna ocidental. Sua leitura nos abre o entendimento de que é preciso investir não mais na esperança moderna, mas no ceticismo sadio de uma geração sem compromissos com grandes ideais.