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SOUZA, Rose Mara Vidal de. O lugar próprio em questão. Texto sobre o livro “Cotidiano e Invenção: os espaços de Michel De Certau” de Fabio B. Josgrilberg, 2005.
Temos um modo de “ver” dominante no mundo moderno: um olhar distante, “neutro” que nos ensinaram/ aprendemos a olhar... (Michel de Certeau)
Com uma formação eclética e contemporâneo do pensador Michel Foucault, Michel De Certeau (França, 1925 - 1986) é um dos intelectuais de maior referência nas áreas de religião e história dos séculos XVI e XVII.
De Certeau que estudou filosofia e teologia entrou para a ordem dos Jesuítas em 1950 e foi ordenado em 1956, além de ter lecionado em diversas universidades espalhadas por todo o mundo, como Genebra, San Diego e Paris. Participou das manifestações políticas em 1968 e durante as décadas de 1970 e 1980, publicou uma série de trabalhos que deixaram nítido seu interesse pelo misticismo, fenomenologia e psicanálise. Trabalhando numa crítica ao sistema educacional e à ineficácia das instituições sociais define este pensador.
No livro do professor Fábio B. Josgrilberg se abre este leque para a discussão da obra de De Certeau e a comunicação, as relações de poder e os consumidores. Segundo o Prof. Luiz Roberto Alves, que prefacia a referida obra, "dois temas causam especial impacto no texto de Fabio Josgrilberg. O primeiro trata das questões sobre cultura popular e das indicações sensíveis acerca da cidade, onde mostra que o discurso intelectual moderno é incapaz de analisar e interpretar as culturas populares, pois o ato de nominação contido nele circunscreve a exclusão, o afastamento. O segundo tema diz respeito à cidade. As reflexões de Certeau sobre os lugares e os espaços dizem muito se as encarnarmos no cotidiano e nas tomadas de decisão política dos atores e protagonistas das gestões urbanas. Principalmente se virmos a cidade como o laboratório da complexa cidadania contemporânea, lugar de novas práticas na reinvenção da vida solidária."
Josgrilberg (2005, p.75) ainda mostra que ocupando-se em evidenciar, nas pesquisas do cotidiano, as “astúcias dos consumidores”, as “criações anônimas”, o rumor da vida coletiva, a realidade de poderes e de instituições, “micro resistências que fundam micro liberdades”, De Certau nos convida a mudar o foco, a inverter o modo de interpretar as práticas culturais contemporâneas, recuperando o que chama “astúcias anônimas das artes de fazer” – esta arte de viver a sociedade de consumo. Com sua teoria das práticas cotidianas, chama a atenção para as táticas (usar, caminhar, ler,...) que compõem uma arte – “a arte do fraco”, a arte que é a teoria das táticas e suas práticas de dizer, e que operam dentro do lugar.
A grande contribuição das pesquisas de Certeau vem ao encontro desse novo olhar que nos escapa a cada segundo de nossa existência. Como lembra Certeau, “o estudo de algumas táticas cotidianas não deve, no entanto, esquecer o horizonte de onde vêm e, no outro extremo, nem o horizonte para onde poderiam ir” (1994, p.105). Ao pensarmos apenas na interpretação do significado das coisas baseado no significante que nos é imposto, perdemos também parte de nós mesmos. Só uma profunda reflexão de nossos próprios olhares e a busca por outros que nos podem fazer reverter esta condição a que somos submetidos cotidianamente.
Referências Bibliográficas
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
JOSGRILBERG, Fabio B. Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. São Paulo: Escrituras Editora, 2005.
Rose Vidal é Pós-doutora, doutora, mestre e graduada em Comunicação Social. Docente, pesquisadora e escritora. @rosevidalyahoo.com.br